segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

POESIA

Uma seleção de poemas metalinguísticos (ou sejam que falam de poesia ou da própria língua).


POEMA

Este texto que se lê
Não é um poema.
Não tem uma métrica, aliterações, assonâncias, metáforas...
Não há crítica social, amor e espiritualidade como assunto.
O que se vê é apenas um texto
Sem nada de lirismo
- que está na poesia
Que todo poeta escreve.
O texto não é poesia,
Que é tudo que não pode ser respondido.
Este texto, talvez, não seja nada
Além de um amontoado de palavras
Que, independentemente de forma textual ou gênero,
Tem, dentro de si, uma poesia.
Uma poesia que pode fazer um poema.

Leandro Monteiro


TÍTULO

Pode ser curto
Ou um pouco mais longo.
Não é poesia, conto, romance, artigo de jornal ou qualquer texto...
Já que tem apenas uma linha.
Ele está na essência
(que, agora, está no papel)
Do cosmo, do mundo ao qual pertence:
Fatos, coisas, seres, gentes, conceitos...
Podendo ser tudo.
Assim, ele é o início de tudo,
O primo-verbo,
O verbo-nominativo
Que originou a existência
De um ser que antes não sabia que vivia.
 E que, agora, vive.

Leandro Monteiro


CONCEPÇÃO DA POESIA

Como todos os ingênuos,
Sempre achei que a poesia
Nascesse como a Virgem Maria
De um parto milagroso, sui generis...
Sem dificuldade.

Entretanto, quando vi
Que a poesia era trabalhada,
Escrita várias vezes a fio...
Percebi  que ela nasce
Como qualquer pessoa parida:
Através dos planejamentos, das intenções
E de atos constantes – durante muitas fases –
Para ficar com sua forma definida –
De uma criança que, depois de muitas leituras, impressões e  aprendizagens,
Tornar-se uma pessoa na vida.

Leandro Monteiro


POEMAS DE  GAVETA

Poemas de gaveta,
Papéis empoeirados,
Tintas incolores,
Palavras a se perderem
No tempo de um pensamento fugaz.

Não sei qual é o sentido das palavras
Mas sei das que eu já não pensava...
Pensava que eram velhas.
Mas, quis  torná-las novas
Ao tanto usá-las nos lugares mais inesperados.

Eu tentei várias vezes  dialogar com elas;
Escrever-las em novos papéis...
Mas elas se recusam a me falar, dizer-me...
A se abrirem à minha mente;
Que  as quer tanto  rejuvenescê-las
Com o amor que tem por elas.

Tentei, tentei... Mas não consegui.
Parece que já aceitarem o tempo,
Os carunchos  a consumi-las
Dentro de um velho imóvel carcomido...
Esperando, pelo fim, a cremação
De todas suas vidas malfadadas.

Feito seus urgentes pedidos,
Eles, agora, são poesia cremada...
E suas essências estão em paz
Dentro de meu cemitério-cabeça.

Leandro Monteiro




ETAPAS


Do mar, eu me originei;
Na terra, ainda vivo;
Para o céu, eu voltarei
A estar com o infinito.



Leandro Monteiro


CANTO DO POETA


Canto de minha casa
O mundo.
Canto o que sei: o nada
De tudo.

Canto uma moral
Que nunca tive.
Canto uma guerra
Onde nunca estive.

Canto um poema
Com palavras sem significados.
Eu canto um tema
Sem eu tê-lo praticado...

Mesmo assim, eu canto...
Canto até explodir meu talo,
Pois creio em meus pensamentos
E sonhos, imensos...
Sonhos de uma vida
Com muita coisa a fazer

Sonhos de uma vida
A buscar para sempre ter
Mais do que os sonhos
(Que estou a fantasiar).



Leandro Monteiro


ROSA MÍSTICA

Rosa mística,
Rosa rosa,
Rosa índiga,
Poderosa.

Rosa mística,
Generosa,
Rosa linda,
Amorosa.

Rosa minha,
Corajosa,
Heroína
Que me salva...

A minha alma,
Toda hora,
De uma rosa
Espinhosa

Rosa negra,
Minha dor...
Dor que espeta
Minha flor:

Minha rosa,
Rosa rosa. 



Leandro Monteiro

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